O problema não está em dormir na cama, mas no momento em que isto se torna um hábito e ambos se acomodem, este comportamento passa a interferir no desenvolvimento da criança.
Saiba que compartilhar a cama com os filhos, apesar dos pais negarem, é uma prática muito comum.
Dessa forma, os pais buscam compensar a ausência deixando os filhos próximos durante a noite, ou para resolver alguns problemas (medo de escuro, por exemplo, ou justificativas dos pais que estão cansados para levá-los de volta para o quarto), e claro, para matar a saudades que sentem dos filhos.
Especialistas alertam que há riscos, mesmo que dividir a cama com os filhos seja prazeroso. A pediatra do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) relata que “A divisão da cama pode restringir os movimentos do bebê”. Além disso, diz Mauro Borghi, pediatra do Hospital São Luiz (SP) pode-se machucar ou até sufocar a criança. “É contra-indicado em qualquer idade”, enfatiza. Além de prejudicar o sono do casal.
O que também preocupa os especialistas são os danos no desenvolvimento das crianças. Para a pediatra Márcia (Unifesp), a divisão da cama com os filhos pode deixá-los mais dependentes, interferindo na sua autonomia.
Além disso, muitos pais relatam ter medo que algo aconteça com seus filhos enquanto estão longe do campo de visão e, se torna mais prático deixar que seus filhos durmam na cama do casal. O que acaba interferindo na vida à dois, pois por um lado a cama familiar aproxima pais e filhos, ela também pode atrapalhar a intimidade dos pais.
De um lado temos as necessidades e sentimentos da criança, que ainda precisa dos pais para solucionar ou lidar com algum incômodo, de outro, temos as necessidades dos pais, como não poder se privar do sono, gostar de dormir abraçado com o filho, compensar o tempo que ficam distantes durante o dia e/ou, ter um uma “desculpa” na vida afetiva-sexual do casal, que muitas vezes não são percebidas.
Enfim, o grande problema em não perceber e reconhecer a sobreposição das necessidades parentais diante deste conflito, é que a criança fica como vítima dos pais, e não o contrário. São os pais que inserem este hábito na criança e permitem que a mesma durma na cama com eles.
Então, você está se perguntando: “E agora? Como fazer meu filho dormir no quarto dele?”
A partir dos 8 meses, aproximadamente, a criança já tem a capacidade para se distanciar dos pais, sendo esta idade importante para que o bebê se habitue a dormir em seu próprio quarto ou na própria cama.
Aos 2 anos, inicia-se a fase de autonomia das crianças alguns adultos enfrentam problemas ao lidar com esta fase, em que a criança acostumada a dormir com os pais, está preparada para dormir sozinha, investindo em idas e vindas no meio da noite até a cama dos pais, mas os adultos não permitem isso e mantêm-se grudados na criança, negando-se a incentivar esta autonomia.
Retirar a criança da cama dos pais exige perseverança, vencendo a preguiça de acolher a criança no meio da noite, e abandonar as atitudes de super proteção, assemelha-se com o processo de desmame.
Assim, “A transição deve ser feita de forma gradual. Uma dica é o pai ou a mãe ficar ao lado da criança, numa cadeira, por exemplo, até ela adormecer. E repetir o processo sempre que o filho acordar”, afirma Borghi (neuropediatra). Um quarto aconchegante, um objeto de transição (como um ursinho ou paninho) e uma luz fraca para espantar o medo do escuro também ajudam, junto com muita paciência e persistência dos pais.
Todo movimento de corte na relação com a criança, seja de desmame, cama compartilhada, desfralde, entrada na escola, terá menores índices de somatizações e transtornos psíquicos para todos os envolvidos, especialmente para a criança, quando feito gradualmente.
Como no desmame, em que não se deve pular de uma amamentação em livre demanda para desmame absoluto, a retirada ininterrupta da criança da cama dos pais, em que está acostumada a dormir.
Para que a criança mude este hábito é importante que os pais disponham de tempo e apoio emocional, fazendo com que a criança tenha confiança e segurança em seu crescimento. A mudança realizada de forma progressiva não interfere nas emoções de ambas as partes envolvidas.
Fontes auxiliares: Sociedade de Pediatria do Neurodesenvolvimento e Revista Crescer.